20/10/2008

Só entre nós

Sábado. Restaurante Familiar em Benfica, Lisboa.

A minha mãe faz anos e por isso mesmo viemos almoçar fora como manda a tradição lá de casa. O restaurante é o do costume que serve bem e tem ambiente descontraído sem formalismos.

Na mesa ao lado da nossa almoça um senhor sozinho. A conversa e o almoço seguem agradáveis.O senhor acaba a refeição, sai e a sua mesa é rapidamente ocupada por 3 outras pessoas. Não lhes dou importância nem reparo nas feições com excepção para uma criança de cerca de 11 anos que fala muito e pede um bife na pedra. Os bifes na pedra fazem muito fumo e barulho por isso é difícil não se reparar em quem os come.

Quase no final da refeição começa a chover. Muito. É uma trovoada qualquer daquelas que daqui por 20 minutos/ meia hora já foi substituída por um sol radioso.

Para fazer tempo e evitar a chuva aproveito para ir ao WC antes de sair. O WC tem dois lavatórios comuns que ficam virados para a sala de refeições com excepção de dois bocadinhos na lateral. Ao sair do WC deparo-me com uma senhora idosa. Deve estar à espera da sua vez. Começo a lavar as mãos. Reparo novamente na senhora idosa através do espelho. Deve ter 80 ou mais anos, tem nas mãos um lenço daqueles de pano que já quase ninguém usa. Deve estar constipada. Não. Seca lágrimas com o lenço. É um chorar tão comedido que se não fosse o lenço nem se dava por ele… Mas os olhos estão tristes.

O que fazer numa situação destas? Não conheço a senhora nem sei o que motiva o choro… A senhora olha para o espelho. Desvio o olhar. Sinto-me impotente perante a situação e opto pela saída mais fácil. Finjo que nada se passa… Tento desculpar-me. Estou só a dar à senhora alguma privacidade… Não a conheço e não podia fazer nada por ela... Saio do WC e volto ao meu lugar.

Fico atento ao WC. Lá de dentro sai a criança faladora. Pouco depois sai a senhora idosa de ar amoroso e sorriso largo nos lábios. Dirige-se à mesa da criança. Terei visto mal?
Não. Tenho certeza que não.

Sem comentários: