11/06/2008

Olé!

Eu sei que este post já vem tarde mas ainda assim não queria deixar de comentar o caso.

Nunca gostei de touradas desde criança. Até que um dia, há uns 4 ou 5 anos, enquanto estava de férias assisti a uma tourada à espanhola na TVE (daquelas em que o touro morre e tudo). Não gosto muito da parte em que o touro é morto porque acho que é totalmente desnecessária mas o toureio a pé, em que o toureiro e o touro estão frente-a-frente, deliciou-me. Por isso mesmo o resto deste comentário será condicionado por esta postura.

Como podem ler aqui a RTP foi proibida de transmitir uma tourada prevista para a tarde do passado domingo pelo Tribunal de Lisboa por considerar que "é susceptível de influir negativamente na formação da personalidade de crianças e adolescente". E mais decidiu o tribunal que agora touradas só das 22h30 às 06h00 e com bolinha vermelha. Porque é que eu não concordo com isto?

Porque:
1 - Como nunca gostei de touradas não as vi-a em criança (e na altura nem comandos havia);
2 - Porque quem sempre decidiu o que eu poderia ver ou não na TV foram (e muito bem) os meus pais e parece que agora os tribunais os consideram inaptos para tal;
3 - Porque as regras de transmissão de programação devem ser legisladas de forma clara e transparente e não decididas casuísticamente por um tribunal;
4 - Porque existe em Portugal a ERC (Entidade Reguladora Para a Comunicação Social);
5 - Porque os mais de 10 milhões de Portugueses que já terão alguma vez visto uma tourada (nem que tenha sido para saber que detestam) não são hoje pessoas piores por isso.

Curiosamente, na passada sexta-feira em Madrid vi num restaurante cerca de 30 crianças que assistiam a uma tourada na televisão. Estarão agora traumatizadas e em risco de se tornarem marginais ou toxicodependentes por isso? Seremos piores que os povos que nunca viram esse espectáculo? E que dizer dos programas de wrestling?

No passado domingo, à mesma hora que a RTP tinha previsto transmitir a tourada, passava na SIC o filme "O Detonador" onde se podem ver bonitas cenas não violentas como pessoas em chamas. É este o mal de decisões casuísticas... Originam diferenças de critérios e criam uma censura encapotada aos nossos meios de comunicação social.

1 comentário:

Anónimo disse...

Os tribunais existem para tomar decisões casuísticas. Mal estaríamos se o cidadão comum se dirigisse à Justiça e ficasse retido em fila de espera enquanto não existissem casos semelhantes e em número suficiente que justificassem uma apreciação em sede legal. Para mais, o processo foi interposto por uma associação legitimada, visando aquela transmissão específica e com argumentos mais que meritórios. A juíza não fez mais do que decidir em conformidade, à luz da legalidade e do bom senso. Uma tourada, ainda que com regras perceptíveis aos adultos, para uma criança não é mais do que uma demonstração de violência gratuita para com os animais, dando-lhe a entender que tais actos são legítimos e comprometendo o seu desenvolvimento futuro no relacionamento com os animais. Não é por haver outros programas violentos na televisão que a decisão da juíza passa a hipócrita e deixa de ter valor; talvez esses programas devessem também ser alvo de igual tratamento, em processos a decorrer à parte. Idealmente controlados pela ERC, sim, mas então estamos perante uma deficiência na regulação, caso em que a relevência da decisão mais se acentua. E a tourada não foi censurada, apenas foram impostas restrições sensatas à sua exibição. Passa um bocadinho mais tarde e está rotulada com a devida marca que, aliás, as televisões estão já obrigadas a colocar em programas violentos. Ou as touradas não são violentas? Isto é claramente o trabalho de uma Entidade Reguladora que se preze. É óbvio que os pais também devem acompanhar os filhos e fazer a selecção dos programas que estes devem ou não ver, mas não ajuda nada quando as opções que têm em horário nobre se resumem a xaropadas de novelas, telejornais vendidos ao populismo e eventos pseudo-culturais que primam ou pela violência ou pela baixeza de nível. Por isso, acho que o livre arbítrio na escolha dos programas que entendo ver ainda não está em causa. Nunca, quando a decisão visou um canal público, do Estado, que deveria ser mais responsável na seleccção da programação; nunca, quando em termos de representatividade não ultrapassa 1/3 dos canais em sinal aberto.